A filosofia, lá longe, desde os gregos, sempre se questionou até onde a gente pode se fiar nos sentidos para conhecer as coisas. Como, na Índia, verdade existe para ser desmentida, a gente desiste de conhecê-la, e fica só com os sentidos. Isso parece resolver a questão, parece - ah, se ao menos os sentidos nos dessem algum conforto! Nem isso: a gente frequentemente não só duvida do que está vendo, mas duvida da própria percepção - eu estou realmente vendo? Na Índia, as sensações são sensacionais – de assombrar gregos, Descartes, e quantos mais falarem em nome da razão. A gente diz e rediz: a Índia é mesmo incredible, parece não existir. E essa sua incredibilidade arrasta de roldão nossas aparentes certezas: a gente se vê desamparado, sem saber que rumo tomar, no meio do caos. Ou melhor, do trânsito da Índia.
Já falamos um pouco a esse respeito. É só chegar, se deparar e se assustar. Mas depois do susto inicial – o primeiro, o segundo, o terceiro - a gente vai aos poucos se familiarizando e disputando o asfalto, corpo-a-corpo, com tuc-tucs, ônibus, carros, bicicletas, burros-sem-rabo, cabras, vacas e quem mais vier. De vez em quando, elefante e camelo entram no páreo também. O trânsito na Índia é o fluxo de tudo e de todos, numa condensação barulhenta e trepidante de tempo e espaço: o aqui e agora é a ordem natural da circulação.
Já falamos um pouco a esse respeito. É só chegar, se deparar e se assustar. Mas depois do susto inicial – o primeiro, o segundo, o terceiro - a gente vai aos poucos se familiarizando e disputando o asfalto, corpo-a-corpo, com tuc-tucs, ônibus, carros, bicicletas, burros-sem-rabo, cabras, vacas e quem mais vier. De vez em quando, elefante e camelo entram no páreo também. O trânsito na Índia é o fluxo de tudo e de todos, numa condensação barulhenta e trepidante de tempo e espaço: o aqui e agora é a ordem natural da circulação.
Em qualquer metrópole do mundo, imaginar um só cruzamento sem sinal de trânsito, já é suficiente para provocar um colapso urbano, um tumulto absurdo. Literalmente absurdo - ab surdus, que provoca surdez. Na Índia dos sinais de trânsito quase inexistentes, do aqui e agora valendo para todos - humanos, veículos, animais - como única lei do asfalto, dos para-choques de caminhões onde se lê: PLEASE HORN ou BLOW HORN (Buzine), pode-se imaginar o quão absurdo, ensurdecedor, o trânsito é. Porém, mais absurdo do que as buzinas, de ensurdecer verdadeiramente qualquer razão, é isso: no trânsito caótico da Índia, a gente não vê batida, atropelamento, briga, discussão, insulto, sequer um palavrão. (!!!) Enigma dos mais assombrosos: a (des)ordem civilizada do trânsito indiano.
Razão, onde estás que não responde?
Razão, onde estás que não responde?