segunda-feira, 2 de abril de 2012

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Lições à mesa indiana (15)



Lição 15:


Last but not least: há um monte de gente que vem à Índia e fica horrorizada, falando de sujeira, falta de higiene, contaminações, infecções, doenças intestinais: a lista de ocorrências funestas parece não ter fim. Há até quem perca tempo com coisas do tipo: “Hoje foi meu nono dia trancada no banheiro” - escreve uma moça em seu blog, com a aparente desenvoltura de quem torna público algo muito interessante e fecundo. Mais: como se seus desarranjos privativos fossem a prova de que experienciou nas entranhas a essência da Índia. Pode ser que eu esteja enganado, mas quem se engana é ela. A Índia é fabulosa demais para a gente perder tempo com vicissitudes intestinas que só dizem respeito a quem as vive. Fora isso, são bobagens. Quem olha demais para o seu umbigo não vê a Índia: pode até ser que, em propaladas idas e vindas ao banheiro, a deixe escapar descarga afora.

Nada de terror. Alguns cuidados efetivos bastam. Água, só mineral, e lacrada, é sempre bom verificar: acontece de estar sem lacre, é raro, mas acontece. Está na rua, bateu aquela vontade de tomar uma bebida refrescante, gostosa? Pede um Slice, suco de manga natural em garrafa: um verdadeiro néctar dos deuses, à venda em qualquer birosca, praticamente pelo mesmo preço de um refrigerante. Vir à Índia e não provar iogurte e lassi, já nos aventuramos em dizer: é quase como não vir à Índia. Cada um decide quais aventuras quer e não quer ter: nós tomamos lassi todos os dias, vários ao dia. Sempre em hotel ou restaurante, nunca nas ruas: pode ser puramente psicológico - muito provavelmente é: a gente nunca sabe com que gelo o lassi é batido – mas, seja como for, nos sentimos mais imunes. Um pouco de ilusão ajuda a viver, e deixa a gente se refestelar em paz na poltrona, saboreando um lassi. À volta ao hotel, depois de andarilhar no meio da multidão e do caos, a hora do lassi é para nós mais do que um mero momento de prazer: ele é vital para a gente se reequilibrar e se sentir minimamente em harmonia. Momento inestimável: na Índia, a gente aprende a valorizar cada segundinho desse.

Alimentos só cozidos, nada cru, nem mesmo aquele tomatinho viçoso, com a cara mais inofensiva do mundo. Frutas? Não há como resistir a tanta fartura: basta lavar. Os deuses adoram, nós também. Outro dia, no “breakpast”, deparamo-nos com um enorme tacho de mamão cortado, maduro, bonito: comer ou não comer? - eis o dilema. Comemos: algum risco a gente tem que correr, só os mortos estão a salvo. Carne só bem passada: não abrimos mão. Do purificador Himalaya, também não. Sorte, claro, sempre ajuda. Ganesha, nem se fala: ele nos quer saudáveis, alegres e brincalhões à sua própria imagem. 

Se mesmo assim complicações orgânicas advierem, nada de pânico - farmácias (chemist shops) são o melhor conselheiro na Índia: com um bilhão e trezentos milhões de intestinos em ação, elas sabem perfeitamente o que fazer. 

As belezas da Índia são infindáveis: não há tempo a perder, só a compartilhar - e a amar:  tão intensamente quanto formos capazes.


Fabulosa demais: nada de bobagens nem terror
Água: só mineral e lacrada
Suco de manga natural em garrafa: néctar dos deuses
Hora do lassi: momento vital de reequilíbrio e harmonia
Frutas nas ruas: como resistir a tanta fartura?
Chemist shop: melhor conselheiro na Índia
Belezas infindáveis: não há tempo a perder, só a compartilhar e a amar


10 comentários:

Rohit disse...

You made me nostalgic..The pictures are very funny and very apt…looking at that bottle of SLICE , I can just remember travelling in India in summer , with very frequent stops with the taxi and buying the mango drink ..There are another brands like Maaza, Frooti, etc.. Fruits are really abundant in India and are offered to gods at temples and relished by people as well…Looking at the fruits, I miss the fruit custard that my mom used to make in summers when I was kid…The first thing I used to eat at 2 pm sunny afternoon after school and …Time flies and so do we drift away from the native place ..But really, reading all this made me feel , I am at home away from home…I feel like that’s your blog has a special message for me and many others like me .. “Don’t miss India “…

Rsssss….

Abraços

Claudio Pfeil disse...

Dear Rohit

You tell us:

"But really, reading all this made ​​me feel, I am at home away from home ... I feel like that's your blog has a special message for me and many others like me .."

Your words, besides being a great honor for us, are a great encouragement to our testimony passionate about India. Actually, this is the meaning of our Travel Diary: sharing our great affection for this fabulous country, which - please give us permission again - it's ours too.

Feeling India as our home is a great joy for us.

Our warm thanks

Rohit disse...

Vive l'Inde, la culture, le patrimoine, la souveraineté et au-dessus de toutes les personnes qui l'aiment.

Bisou
Rohit ..

Suis content !! ;)

Anônimo disse...

Farias Brito buscando a finalidade do mundo e a consciência diz que a filosofia deve ser poética e religiosa, cogitava nova religião fundada pela filosofia, para o "governo das almas". Deus é definido em termos paralelos ao Sama Veda indiano "A inteligência em si, a idéia da idéia e o pensamento do pensamento". Aproxima-se do manancial místico-filosófico hundu, através da influência de seu "descobridor": Schopenhauer. Alice Moreira

Rohit disse...

Foi ótimo para aprender sobre nomes de famosos philosophers como Schrpenhauer e Brito Farias. Eu não sabia muito sobre eles, mas eles foram muito influenciados pela filosofia indiana da religião mencionado em nosso Vedas e outras escrituras como Upanishads. Eu tentei ler sobre eles. Schrpenhauer ficou impressionado com a filosofia hindu e chamou-lhe "a produção da mais alta sabedoria humana", e considerou as Escrituras contêm concepções sobre-humanas. Os Upanishads foi uma grande fonte de inspiração para Schopenhauer, e ele mencionou. "É a leitura mais gratificante e edificante no mundo, tem sido o consolo da minha vida e será o consolo da minha morte."
O conceito de "governo das almas" é muito interessante. Como a alma é a essência da entidade divina e como Deus nos criou. Base física e da actividade dos espíritos por essas philosphers são realmente definidos nos níveis paralelos que está escrito nos Vedas e Upanishads ... Como os cinco elementos são básicos de toda a vida e como ter controle sobre nós mesmos e como a vida ao vivo, sem misérias e sofrimento (também dito no budismo eo catolicismo precoce.)
Os dois termos básicos que definem este conceito são "Brahman" e "Atman" O Brahman é o espírito universal, a fonte espírito infinito ea causa e fim do destino de toda a existência. Brahman é a Fonte Espírito final de que o universo tem crescido ". É o eterno presente, passado e futuro. Em outras palavras Brahman é a essência última dos fenômenos materiais. A palavra Atman significa que o eu interior. É o Espírito imortal perfeito de qualquer criatura viva, sendo, flora e fauna. seu "espírito" dentro de cada entidade viva. Em outras palavras, o universal princípio de vida. A relação entre nós "Atman" e do divino "Brahman" é como uma gota de água no oceano. Uma gota de água quando cai no oceano, torna-se o maior corpo de água, unificada com a bem-aventurança eterna e da energia.

Muito obrigado Alice por falar e partilhar esta filosofia de governo das almas.

Anônimo disse...

De nada, Rohit. Postei este comentario porque o Cláudio é filósofo e poderia desenvolver suas idéias de filosofia e psicanálise comparadas ao pensamento hindu...
um bom dia para você,
Alice

Rohit disse...

Graças Alice .. Eu adoro filósofos e sua filosofia ... Você tem um grande dia pela frente .. Páscoa feliz também ...


:)

Rohit

Rohit disse...

Graças Alice >> Eu adoro filosofos e sua filosofia ... Você tem um grande dia pela frente ..Páscoa feliz também...

:)
Rohit

Anônimo disse...

Ah Claudio! Adoro este seu lado positivo de ver a vida!

É isso aí rapaz, com tanta coisa pra fazer de bom na India, porque ficar preso aos intestinos quando se pode ter tanto prazer pela boca, olhos e ouvidos!

Concordo!

Bjs

Ricardo

dani cor de rosa disse...

A experiência é sempre individual. E há que ser respeitada cada escolha feita.

Eu particularmente, comi frutas frescas na rua como carambola e coco, tomei agua de coco (direto do coco) e comi cenoura com pimenta. Tudo de vendedores de rua. E passei bem. Foi uma decisão minha. Ponderei os riscos. É como você disse, Claudio, viver é também aventurar-se e correr riscos. É necessário corre-los, respeitando os nossos limites. Ai vira uma delicia, a experiência é incrível.

E outra escolha é como olhar. Dialogar com a falta (a sujeira, a poeira, o fedido) ou acolhe-la e "junta-la" a abundancia (da beleza, do sorriso, do sabor intenso, da magica). Eu tendo a preferir a juncao. Não é negar o feio, mas entender que ele também faz parte. E apenas isso. Ele não é o mais importante, não é único nem perpetuo. Ele é apenas uma parte, talvez indissociável do belo, mas uma parte. Isso foi o que a India me ensinou. Por isso, entrego pra Ganesha. Uma parte da escolha é minha. A outra é com o divino. Não sou senhora de tudo, isso é ilusao. Sou uma parte.