terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

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A segurança nos aeroportos indianos


Na Índia, devido a frequentes ataques terroristas perpetrados por fanáticos políticos ou religiosos, existe uma verdadeira obsessão pela segurança, especialmente nos aeroportos, os quais, cabe ressaltar, são espetaculares. (O de Delhi, batizado Indira Gandhi International Aeroport - em hindi: इन्दिरा गाँधी अंतर्राष्ट्रीय हवाई अड्डा - é de fazer cair o queixo de qualquer um). Os controles se multiplicam uns após os outros: quando a gente pensa que acabou um, começa outro, quando este termina, outro recomeça. Para se ter uma ideia, nos 14 voos que fizemos em toda a Índia, o procedimento médio foi o seguinte:

1- Para entrar no saguão de qualquer aeroporto, há um primeiro controle - passagem aérea e passaporte - e em geral, toda a bagagem, inclusive a de mão, passa pelos raios X. Quem não vai viajar, nem entra no aeroporto, e quem vai recepcionar alguém, fica esperando do lado de fora.

2- Lá dentro, antes do check-in, segundo controle: toda a bagagem passa de novo pelos raios X, exceto a de mão. A bagagem a ser despachada é lacrada, e a de mão, etiquetada: só então o passageiro pode encaminhar para o check-in. 

3- Portão de embarque, terceiro controle: passaporte e cartão de embarque. Nome do passageiro, número do passaporte, data de expiração, número do visto são anotados numa ficha, e o cartão de embarque recebe o primeiro carimbo. 

4- Depois do portão, quarto controle: a bagagem passa novamente nos raios X e todas as etiquetas são vistoriadas e carimbadas uma a uma. Mesmo passando nos raios X, com frequência pede-se para abrir a bagagem de mao, a qual é toda revirada, aparentemente muito mais por curiosidade do que por necessidade. É comum perguntas do tipo: onde você comprou isso? quanto pagou? - bem como a exibição dos pertences aos demais funcionários acompanhada de risos e gracinhas, denotando falta de profissionalismo e de respeito. Aviso aos passageiros: se por azar a etiqueta cair ou não for carimbada – o que acontece frequentemente – o passageiro tem que voltar lá atrás nos raios X, caso contrário, não embarca. Os passageiros passam no detector de metais, seguido de revista – mulheres para um lado, dentro de uma cabine, homens para outro, sobre um estrado. Interessante: como o turbante é um símbolo religioso, não solicita-se sua remoção na hora da revista, mas um detector manual de metais sobrevoa a cabeça.

5- Passando na peneira, quinto controle: passaporte e cartão de embarque, o qual recebe um segundo carimbo. 

6- Finalmente a sala de embarque, alguns passos nos separam do avião, e um sexto controle também: passaporte, cartão de embarque – o qual recebe um terceiro carimbo – verificação das etiquetas e revista da bagagem de mão. Por que revistá-la se já passou duas vezes nos raios X? Melhor não perguntar.

7- Se o passageiro estiver num dia de sorte, entra direto no avião, se não, vai sofrer uma oitava peneirada com direito a uma "geralzinha" básica antes de entrar na aeronave, seja na própria pista, seja na escadinha do avião, como aconteceu conosco voltando para Delhi. Parece brincadeira mas não é: os indianos levam, ou parecem levar, tudo isso muito a sério. Quem conhece bem a Índia, sabe do que estou falando.

O mais interessante de tudo, é que toda essa rede de controle parece uma mistura de realidade com ficção, de eficiência hiperativa com burocracia caricatural, a tal ponto que a gente se pergunta se quase tudo não passa de um faz de conta. Qual a utilidade de se carimbar quatro vezes um cartão de embarque? Se já é difícil explicar a utilidade de um carimbo, o que dirá de quatro. Para que anotar em sucessivos controles preliminares, nome, sobrenome, número do passaporte, data de expiração, número do voo, número do visto, se todas essas informações são fornecidas magneticamente pelo passaporte ou contidas no próprio cartão de embarque? Qual o fundamento de se passar nos raios X uma bagagem de mão que já passou por um, ou dois anteriormente? De que vale carimbar uma etiqueta? 

Mais interessante ainda: a Índia é tão espetacular que ela responde a todas essas questões com um simples That's Índia! 


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