Lição 12:
Os indianos adoram gorjeta, fazem qualquer coisa por um baksheesh ou tips. Qualquer coisa mesmo. Num país onde mais da metade da população vive com menos de dois dólares por dia, é fácil entender o porquê: para um indiano comum, gorjeta não é - parodiando os franceses – um pourboire, mas sim um pourvivre. Na Índia, mais do que em qualquer outro lugar, corre-se atrás desse “paraviver” como de água no deserto. Elementar.
Nessa corrida, além dos que estão a nos prestar serviços de fato, há também os que estão a nos “servir” independentemente da nossa solicitação ou vontade, o que de certo modo é compreensível: o simples fato de ser estrangeiro, estar viajando, sentado à mesa de um restaurante, máquina fotográfica na mão, faz de nós milionários. Nada mais normal. O que é muito peculiar é a maneira como põem em prática essa percepção: salta aos olhos a abordagem insistente, teatral, bajulatória, pretensamente zelosa, e mais, a subserviência no limite da degradação.
Situação corriqueira, uma simples ida ao banheiro do restaurante. Pronto: alguém já se apressa em abrir a porta, faz uma saudação - “hello Sir!”, acompanha nossos passos, mede nossos gestos, aguarda o tempo que for preciso, corre para abrir a torneira, assiste ao lavar das mãos, à nossa imagem no espelho, estende-nos uma folha de papel - duas, três – e por fim, como uma sombra suplicante, se acomoda silenciosamente ao nosso lado à espera de rúpias, ou clama pungentemente por elas estendendo as mãos. Conviver com isso, diariamente, a toda hora e lugar - principalmente na intimidade própria a um banheiro - mais do que incômodo, é muitas vezes opressivo. Fazer o quê? Paciência é sempre boa aliada, mas é falível também: quando não está disposta a colaborar e a pagar o preço, um obrigado firme pode facilitar a saída. Em hindi, dhanyavad ou shukria – duas palavrinhas boas de se memorizar e usar sem moderação: são providenciais.