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quarta-feira, 14 de março de 2012

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Lições à mesa indiana (3)


Lição 3:


Outra lição indiana, verdadeiro prato do dia de todo e qualquer lugar: a elasticidade do tempo e a relativa ordem das coisas. Não há filosofia que dê conta. Paciência, imensa qual seja, também não. Mas viver é preciso e sobreviver mais ainda, principalmente na Índia. 

Primeira diligência: nunca esperar a fome fazer um buraco desesperador para se pensar em ir ao restaurante - melhor chegar bem antes. Bem antes mesmo. Pediu dois pratos, veio um? No problem: vai comendo o que chegou, de repente, vem o outro. Muito de repente. Se não vier, era para não vir: Ganesha sabe o que faz. Chegou o prato, não veio talher? No problem: levanta e vai atrás de um. Ou então, come à moda indiana, molhando os dedos: uma cultura milenar tem muito o que nos ensinar. Pediu mais pão e ele só chega quando a comida acabou? No problem: pão é uma ótima sobremesa. Vale a dica: nunca levar para o lado pessoal e pedir, e re-pedir, tudo mastigadinho, com jeito. Há que se ver o lado bom da coisa: os indianos costumeiramente são gentis, prestativos e muito simpáticos, fazem tudo com calma, sem atropelo ou exaltação. Claro que há os carrancudos: que lugar, que país, que família, não os tem? - um pouco de autocrítica não faz mal a ninguém. E há também que se ter sempre fresco em mente que, na Índia, esperar prolongadamente – às vezes uma, duas horas, ou mais – não é puramente fortuito, é socialmente orgânico: os indianos vivem noutro tempo. Eles próprios fazem graça com isso: uma piada diz que na Índia tudo funciona com “IST” - India Standart Time. Brincadeira à parte, o assunto é muito sério. Um indiano nos disse:

- I hate waiting. But this is in our blood.

Ele, melhor do que ninguém, sabe do que está falando. E a gente, na Índia, também. Não adianta deixar o sangue esquentar: melhor fazer da espera algo interessante e fecundo - ler ou reler o guia de viagem, fazer anotações, namorar, bater papo ou simplesmente se deixar levar e observar o que acontece à volta. Às vezes a gente se surpreende. E muito: um altar de Ganesha quase provocando um incêndio no hall do hotel; um garçom cruzando a sala com a louça recém-lavada pingando no chão; uma torradeira elétrica funcionando sobre o estofado de uma poltrona, por sua vez, empilhada sobre outra; uma indiana varrendo o restaurante, vassoura sem cabo à mão, elegante que só ela: uma princesa; um indiano idoso, no alto de uma escada rangente, no meio do salão, retocando a pintura da abóbada, com ramagens e flores em filigrana; um lustre art déco caindo do teto feito um paraquedas; uma vaca à porta do restaurante, compenetradíssima, aguardando seu cardápio; coisas desse tipo. Alguém duvida que a Índia é surpreendente? Para quem tem olhos, é difícil se entediar: basta ver.

E, acima de tudo, cabe sempre lembrar: um pouco de humor faz bem à saúde. Uma dica auspiciosa: fazer todo o pedido ao garçom de uma só vez. De preferência, a conta também. 


Restaurante em Khajuraho

domingo, 26 de fevereiro de 2012

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Gotas da India




Nos restaurantes da Índia - a menos que se queira passar duas ou três horas - é aconselhável pedir tudo ao garçom de uma só vez: entrada, prato principal, bebida, sobremesa, chá ou café. Incluir o pão também. E, de preferência, a conta. Se algo não vier na ordem do pedido, ou simplesmente não vier, faz parte do menu.