Lição 14:
Uma lição crucial: a higiene. Na Índia, para quem viaja por muito tempo, é impossível ficar cheio de dedos, melhor ainda não tê-los, senão acaba morrendo, cheio de dedo e fome. O que se costuma chamar de higiene, não é o forte daqui: ponto final. Não é preciso perder tempo epilogando sobre isso: chover no molhado para quê? Vale a lição de nossa guia cor-de-rosa: “Se vocês sentirem que é para comer, vocês comem, se sentirem que é para beber, vocês bebem... Sentiu? Vai lá e toma! Entrega para Ganesha”. Certíssimo: na Índia tem que ser assim mesmo. Na maioria dos restaurantes, se a gente for primeiro ao banheiro e, se calhar, no meio do caminho, der uma espiadela na cozinha, perde o apetite. Para minimizar riscos, fazer o pedido antes pode ser astucioso: no caso de perder a fome depois, a comida já foi pedida. E sejamos realistas: um naan quentinho e uma cumbuca de arroz basmati sobre a mesa, são suficientes para reabrir qualquer apetite. Até os mais enjoados.
Proteção dos deuses à parte, precaução nunca é demais. Lavar as mãos também não. Claro que não é possível viajar com uma torneira do lado, até porque na Índia, a água vem mais facilmente do poço. Fazer o quê? Um francês companheiro de voo, ao despedir-se de nós, tirou do bolso um pequeno frasco e fez-nos dom benfazejo:
- Tenez, c’est pour vous...vous en aurez besoin.
Precisar? A gente só não fazia ideia do quanto: um líquido purificador de mãos, de fabricação indiana, cujo perfume e refrescância são tão deliciosos, que toda vez que o utilizamos, não resistimos em pousar a palma das mãos sobre rosto, nem que seja por alguns segundos: dá quase para levitar. Vende-se em qualquer farmácia. No rótulo vem escrito: mata 99.9% dos germes: 0.1% a gente entrega fácil para o Ganesha. É de grande valia: antes de levar qualquer coisa à boca, que tal uma purificaçãozinha? Ritual dos mais elevados: a Índia nos conclama à purificação, especialmente após o manuseio das notas de menor valor – dez, vinte, cinquenta rúpias – enegrecidas de sebo, parecendo se desintegrar. Na confusão da bagagem em Chennai, acabamos perdendo o francês de vista, sem pegar seu contato. Somos-lhe tão gratos que, na impossibilidade de fazê-lo diretamente, prestamos-lhe aqui homenagem, divulgando o nome e a marca do produto: Pure Hands (Herbal Hand Sanitizer, Himalaya). O que parecera ser apenas um mimo fresco e perfumado do francês, acabou virando uma companhia indispensável: a gente não dá um só passo na Índia sem o Himalaya dentro do bolso.
O melhor de tudo, acredite quem quiser: flora e fauna intestinais na mais perfeita harmonia.
E a Índia toda em nossas mãos - com seus milhares de deuses e germes - do jeito que ela é.
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Purificador de mãos: companhia indispensável |