sexta-feira, 16 de março de 2012

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Lições à mesa indiana (4)


Lição 4:



A Índia é um inextricável caleidoscópio de credos e religiões, o hinduísmo congregando mais de 80% da população. Como um dos preceitos fundamentais do hinduísmo é o respeito pelos animais - é neles, preferencialmente, que os deuses costumam se manifestar – a cozinha indiana é essencialmente vegetariana. Em certos hotéis é até mesmo proibido trazer de fora qualquer prato com carne. A maioria dos restaurantes sinaliza: VEG (vegetariano) ou NON VEG (não vegetariano). Embora não exista no hinduísmo nenhuma proibição expressa de se comer carne – exceto para os brâmanes, situados no topo da pirâmide de castas – os hindus, em geral, seguem essa regra.

Muitos animais são associados a uma divindade, considerados sagrados, fervorosamente venerados e festejados: o macaco (associado ao deus Hanumam, símbolo de poder), o elefante (associado ao queridíssimo Ganesha, xodó dos hindús, símbolo de sabedoria, proteção, prosperidade e superação), o touro (associado a Nandi, guardião e veículo de Shiva, símbolo de força e energia sexual), a águia (veículo de Vishnu), a cobra (Shiva a tem enrolada ao pescoço como colar, e Vishnu, faz dela seu leito), cisne (veículo de Saraswati, a deusa da aprendizagem), o pavão (veículo de Kartikeya, irmão de Ganesha), e por aí vai.  Nem o rato escapa do panteão animal: ele é o veículo de Ganesha. Em Bikaner, há um templo só para ele: os devotos levam-lhe o prasad – oferenda em forma de comida ou doce – o qual, após ser consumido pelos roedores que vivem no templo, é saboreado pelos fiéis. Ver para crer. 

E a vaca? Está acima de tudo o que é mais sagrado, ícone terrestre da perfeição divina. A vaca, na Índia, é um verdadeiro espanto: primeiramente, é associada a Krishna, pastor de vacas, que a elas devota carinho e afeto - quem ousaria fazer o contrário? Por seu temperamento dócil e pacífico, a vaca simboliza pureza e inocência; por dar em abundância sem pedir nada em troca, de prodigalidade e generosidade é símbolo também; sua virtude espontaneamente benfeitora faz dela uma mãe: seu leite alimenta, seu excremento fertiliza a terra, serve de combustível aos lares - a vaca reina soberana no dia-a-dia dos indianos, que bebem seu leite mas preservam sua vida. Budistas e jainistas o fazem também. Como se não bastasse, a vaca representa o estágio mais aprimorado da alma no mundo – acima mesmo dos brâmanes - antes de atingir a divindade: seu leite, urina e até excrementos são utilizados em rituais de purificação. Depois disso, a gente entende porque aqui elas circulam livremente sem serem molestadas - ninguém se atreve a tocar num só pedacinho delas, mesmo quando vagueiam languidamente no meio da estrada atravancando o trânsito: Krishna está passando. Difícil é entender que, sagradas que são, alimentem-se de lixo. That's India.


Shiva montado no touro Nandi

  
Krishna

2 comentários:

Anônimo disse...

This text is undoubtedly perfect. Lord Krishna and me both love it.

Rohit

Anônimo disse...

Mto bom ler sobre a Índia. Que linda!!! Evolução junto à tradição, diversidade e cores vivas. Será que seguem o tempo dos animais? Desinteressado e natural? É mesmo bem interessante.

Muito obrigada.
Alice