Sempre que pensamos ter chegado a uma verdade acerca de qualquer coisa na Índia, no momento em que a formulamos, a realidade nos desmente logo em seguida. Foi assim no Hotel Zen, em Khajuraho:
- Aqui na Índia – dizia eu sentado à mesa do café da manha, no jardim – o atendimento sempre deixa a desejar, nunca somos surpreendidos por uma mesa caprichada, uma toalha limpinha, um prato especial, um serviço atencioso. Tudo parece meio largado, falta cuidado, carinho – conclui.
Foi só eu terminar de falar, veio o dono do hotel trazendo duas bananas e colocando-as sobre nossa mesa:
- São para vocês, vieram do nosso garden – disse-nos sorrindo com sua enorme barba branca parecendo um baba. E logo engatou num convite:
- O que vocês farão hoje à noite? Gostaria de convidá-los para jantar comigo, comida tipica indiana, eu mesmo vou preparar. Vocês gostam de comida indiana? Vocês são meus convidados. Na hora que vocês chegarem, nove, dez, não tem problema.
Jantar combinado, foi-se embora. Ficamos encantados com sua gentileza, e mais ainda, boquiabertos com o desmentido de minhas palavras de maneira quase sincrônica. Numa questão de segundos, fomos levados a reformular o que acabáramos de dar como verdade. Ganesha parece ter dado uma rasteira na gente e devia estar se rindo. Mas essa não foi a única: ao voltar para o hotel no horário do jantar, nem sinal do nosso gentilíssimo chef baba, que deu uma banana para nós.
Fomos desmentidos pela segunda vez. Na Índia não há verdade que resista: inclusive esta.
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